Estamos falando daquelas pequenas ações de cuidados que podem provocar reações muito desagradáveis. Tomar um xarope ruim para dor de garganta, uma vacina, limpar o nariz com soro fisiológico em um resfriado. Para algumas crianças, limpar a boca após a refeição ou lavar o cabelo no banho gera desconforto.
A tentação de resolver rapidinho sem avisar a criança, de soltar um “não é nada”, ou um “não precisa chorar, tá?”, pode ser bem grande. Quem não se lembra de uma mão de adulto chegando de surpresa e limpando o nariz com um movimento forte, rápido e brusco?
Acompanhar o outro em momentos de medo, de dor ou de desconforto é bastante desafiador. Quando será que a gente aprendeu a deixar o sentimento de lado e querer evitar ou parar o choro de qualquer maneira?
Talvez porque o desconforto da criança ative algum gatilho nosso. E o que fazemos? Terminamos por mentir ou enganar como uma forma enviesada de carinho para acompanhar alguém que está em uma situação desagradável.
Vemos exemplos dessa postura em vários vídeos que circulam nas redes sociais de aplicações de vacina em bebês de uma forma “divertida”, em que o bebê “nem percebe” ou “não sofre”. Será que é assim mesmo? Que mensagem realmente transmitimos?
Dizer que não vai doer nada a picada da vacina (ou diretamente não dizer nada), ou dizer que “não é nada”, fingir que é divertido, distrair a criança e tentar fazer “bem rapidinho”, chantagear para a criança tomar o xarope (“se não depois não tem sobremesa”) não só quebra uma conexão de confiança, como também não é sustentável por muito tempo (quando por exemplo a criança vai precisar tomar o xarope 3 vezes ao dia por uma semana).
Ludibriar a criança pode parecer o caminho mais fácil, mas o grande risco aqui é alimentar a angústia da criança que não sabe o que vai acontecer nem quando.
No próximo post, vamos abordar sobre como podemos acompanhar esses momentos de forma mais respeitosa.